quarta-feira, 17 de outubro de 2007

AS COISAS NÃO TERMINAM

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As coisas nunca terminam, às vezes as coisas só dormem um bocado, um sono compri...do, daqueles de quem tomou todas e chegou tão ruim que dorme e hiber...na.

As coisas às vezes também - por não terminarem nunca - tiram cochilos a noite toda, acordam ao menor sinal de ruído, movimento, ou simplesmente acordam - buf - abrem os olhos e podem voltar a cochilar, como também perder o sono de vez.

Vez ou outra, às coisas simplesmente não dormem, permanecem por dias, meses, anos sem que sequer dar uma pescadinha, daquelas de quem assiste toda a programação da TV e teima em não dormir de jeito nenhum.

Certa vez, eu cheguei a duvidar que não morressem as coisas. Mas depois me embrenhei curiosamente numa reflexão sobre o término. E cheguei a conclusão de que ele não existe, que é criação dos homens, invenção de gente que dorme sempre, e que não fica acordado e perde a continuação das coisas que definitivamente não terminam.

As pessoas não morrem, dormem. A chuva não acaba, dorme. O amor não acaba, dorme. A amizade não acaba, dorme. A fome não acaba, dorme. A tristeza não acaba, dorme. E é assim com todas as coisas, porque nada na verdade termina, dorme.

E se você for como as coisas que dormem, aí é que vai acreditar mesmo que as coisas terminam.
Se você dormir, não se engane, quando acordar entenda que tudo permaneceu ali, prosseguindo na sua eterna continuidade.

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Diva Brito
17/10/2007
sexta-feira, 12 de outubro de 2007

MEMÓRIAS DE UM POETA

Posted in by Diva Brito | Edit

Hoje eu não consigo chorar nem rir
Não, não há vento que me tome a face
E que consiga cavar-me alguma emoção
Eu morri, morreu dentro de mim os versos,
Calaram-se, sepultaram-se, divorciaram-se de mim.
Não existe no meu peito nada que o preencha
Nem força maior que o faça bater
Estou vivendo, se assim pode se chamar,
A apatia dos dias d'um poeta sem versos
A poesia morreu dentro de mim.
E por consequência me fez morrer também
Dias sem cor, sem calor, dias sem caneta e papel
Aqui jaz um poeta seco
E que sua alma reviva no céu.

Diva Brito
14/03/2007
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
A rotina a sufocava, roubava-lhe os futuros suspiros, os desejados devaneios, o saboreio do afago no coração. Roubava-lhe além do ar, a coragem de expressar, a desenvoltura de escrever, a satisfação de amar, o direito de se apaixonar, as forças para resistir.

A rotina era como um bicho apavorante, um monstro arrastando-a pelo pé, para um pântano escuro, sem calor, sem luz, sem cor, em busca de capturar não só a ela, mas principalmente seu sorriso. E onde a cada minuto, por mais que se debatesse, mais um pedaço do seu sorriso ia desaparecendo submerso ali.

Ela bem sabia que uma hora iria sair daquela situação, sabia que não eram aqueles, seus últimos instantes de vida, mas ainda assim a sensação era de morte lenta e definhante.

Ela também sabia que se esperasse um vacilo do monstro conseguiria bolar uma fuga, mas a vontade de que aquilo tudo não tivesse se iniciado a segurava numa inércia sem sentido.

Queria mesmo era nunca ter estado ali, mesmo sabendo que uma hora iria sair, queria nunca ter sentido aquelas agonias, aquelas tristezas, e a falta de ar, de coragem, de desenvoltura, de satisfação, de paixão, de forças. Mas para tanto precisaria fazer com que tudo aquilo só dependesse de si, e aquilo também depende do mundo, do sol, das cores, e dos amores.

Era com pesar que ela sentia o frio, a mágoa, o sal de suas lágrimas que já foram doces. E se tentara gritar por socorro, o pântano era longe, escondido, fechado, e quando alguém a ouvisse, o sorriso dela já poderia estar morto.

P.s.: Quando a MENINA gritar por socorro, é porque ela precisa mesmo, muito e de verdade, e o mais rápido possível.

Diva Brito
11/10/2007
domingo, 7 de outubro de 2007
Acabaram-se as notas.
O violão não toca
o pandeiro não toca
A voz não se solta
E eu vou-me embora

A luz se apaga
O fumante não traga
o bêbado não cai
A conta me traga
Adeus, até mais!

Diva Brito
22/09/07