quinta-feira, 14 de maio de 2009

Crescendo dolorosamente

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Quando fomos banidos do Paraíso, a expulsão foi eterna. Não podemos voltar ao Éden. Se você recorda da história, o caminho está bloqueado por querubins e por uma espada flamejante.
Não podemos voltar atrás; só podemos seguir a diante.

Voltar ao Éden seria como tentar voltar ao útero da nossa mãe, à infância. Já que não podemos fazer isso, temos que crescer. Só podemos seguir adiante pelo deserto da vida, abrindo caminho dolorosamente sobre o chão queimado e estéril, rumo a níveis cada vez mais profundos de consciência.

Essa é uma verdade extremamente importante, mas é uma jornada difícil, e a consciência de que as coisas são desta maneira muitas vezes é dolorosa. Portanto, a maioria das pessoas detém sua viagem o mais rápido possível. Elas descobrem que o que parece ser um lugar seguro e se enterram na areia, e ficam lá, em vez de prosseguirem pelo áspero deserto, que está cheio de cactos, espinheiros, e pedras afiadas.

Mesmo se a maioria das pessoas já pôde aprender, num período ou outro, que "as coisas que nos ferem no ensinam" (para citar benjamin Franklin), a educação no deserto é algo tão doloroso que eles a interropem assim que podem.

A senilidade não é só uma desordem biológica, ela também pode ser a manifestação da recusa de um crescer, uma desordem psicológica evitável por qualquer um que embarca num padrão de crescimento psicoespiritual vitalício. As pessoas não querem falar sobre a verdadeira maturação; ela é dolorosa demais.

Se estou disposto a falar sobre a dor, issonão significa que sou algum tipo de masoquista, muito pelo contrário. Não vejo absolutamente alguma virtude em qualquer tipo de sofrimento não construtivo.

Mas existe algo que pode ser chamado de sofrimento construtivo. E a diferença entre o sofrimento construtivo e o não construtivo é uma das coisas mais importantes que aprendi ao lidar com a dor de crescer. O sofrimento não construtivo como as dores de cabeça, é algo de que devemos nos livrar; o sofrimento construtivo deve ser suportado, e temos de nos esforçar para superá-lo.

Uma das coisas que nunca deixam de me espantar é a constatação de que relativamente poucas pessoas entendem o que é coragem. A maioria das pessoas acha que coragem é a ausência do medo. A ausência do medo não é coragem; é algum tipo de problema cerebral. A coragem é a capacidade de seguir adiante apesar do medo ou da dor. Quando isso acontece a pessoa descobre que vencer aquele medo não só o torna mais forte, como também é um grande passo na direção da maturidade.

O que exatamente é a maturidade? Quando escrevi A trilha menos percorrida, embora estivesse descrevendo o perfil de uma série de pessoas imaturas, nunca dei uma definição de maturidade. Mas acho que o que caracteriza a maioria das pessoas imaturas é o fato de elas ficarem sentadas reclamando que a vida não satisfaz suas exigências. Como Richard Bach escreveu em Ilusões, "defenda suas limitações, e com certeza elas serão suas". Mas o que caracteriza as relativamente poucas pessoas totalmente maduras é que elas consideram responsabilidade sua -até mesmo uma oportunidade - satisfazer as exigências da vida.

Para prosseguir deserto adentro, é preciso estar disposto a encontrar o sofrimento existencial e trabalhar para ultrapassá-lo. Para fazer isso, se somos como a maioria da humanidade, será necessária uma mudança de atitude em relação à dor de uma maneira ou de outra. E aqui estão algumas boas novas: a maneira mais rápida de mudar sua atitude em relação a dor é aceitar o fato de que tudo que acontece foi projetado para o nosso crescimento espiritual. Ora, que melhor notícia pode haver do que essa de que não podemos perder, de que faltalmente venceremos? Temos a garantia de vitória uma vez que tenhamos percebido que tudo o que aconteceu conosco foi projetado para nos ensinar oque precisamos saber na nossa jornada.

M. Scott Peck
Proseguindo na trilha menos percorrida
segunda-feira, 11 de maio de 2009

Concordo com Alice Ruiz

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"Já que me sinto muito digna do sentar a tua mesa, não quero as migalhas não, quero o pão inteiro."
Venha, entre.
mas peça licença
quando for me dizer
de gostos amargos,
de dores no peito,
de lágrimas caídas,
ou de coisa ruim.
não é que eu não vá lhe ouvir
mas, só posso te dizer
que quando eu fico assim
niguém por mim pode fazer
Às vezes eu peço colo
mas só acho meu travesseiro.
Às vezes o seu consolo
Você acha diante do espelho.


Diva Brito
sexta-feira, 8 de maio de 2009

ROTINA

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A rotina a sufocava, roubava-lhe os futuros suspiros, os desejados devaneios, o saboreio do afago no coração. Roubava-lhe além do ar, a coragem de expressar, a desenvoltura de escrever, a satisfação de amar, o direito e o querer se apaixonar, as forças para resistir.

A rotina era como um bicho apavorante, um monstro arrastando-a pelo pé, para um pântano escuro, sem calor, sem luz, sem cor, em busca de capturar não só a ela, mas principalmente seu sorriso. E onde a cada minuto, por mais que se debatesse, mais um pedaço do seu sorriso ia desaparecendo submerso ali.

Ela bem sabia que uma hora iria sair daquela situação, sabia que não eram aqueles, seus últimos instantes de vida, mas ainda assim a sensação era de morte lenta e definhante.

Ela também sabia que se esperasse um vacilo do monstro conseguiria bolar uma fuga, mas a vontade de que aquilo tudo não tivesse se iniciado a segurava numa inércia sem sentido.

Queria mesmo era nunca ter estado ali, mesmo sabendo que uma hora iria sair, queria nunca ter sentido aquelas agonias, aquelas tristezas, e a falta de ar, de coragem, de desenvoltura, de satisfação, de paixão, de forças. Mas para tanto precisaria fazer com que tudo aquilo só dependesse de si, e aquilo também depende do mundo, do sol, das cores, e dos amores.

Era com pesar que ela sentia o frio, a mágoa, o sal de suas lágrimas que já foram doces. E se tentara gritar por socorro, o pântano era longe, escondido, fechado, e quando alguém a ouvisse, o sorriso dela já poderia estar morto.

P.s.: Quando a menina gritar por socorro, é porque ela precisa mesmo, muito e de verdade, e o mais rápido possível.

Diva Brito
quarta-feira, 6 de maio de 2009

gota d'água

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Composição: Chico Buarque (1975)




Por favor...

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água...